Brasil deve buscar OMC contra taxa do aço, diz Temer Valor Econômico
Estevão Taiar, Ricardo Mendonça, Ana Conceição e Ligia Guimarães A sobretaxa ao aço imposta pelos Estados Unidos foi tema de debate em destaque ontem, no primeiro dia do Fórum Econômico Mundial, em São Paulo. O presidente Michel Temer afirmou que o Brasil deve ir à Organização Mundial do Comércio (OMC) para protestar contra a sobretaxa. "Há grande preocupação com essa questão", disse, durante abertura do evento. Ele afirmou que é necessário "tratar com cuidado" as relações com os EUA e que buscará "conectar as empresas brasileiras fornecedoras com as empresas americanas que recebem esse aço". "Na sequência, vamos formular uma representação à OMC, com todos os países atingidos", afirmou. "Somos contra qualquer protecionismo. Queremos a abertura de todos os mercados." O ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes Ferreira, reiterou que o governo brasileiro defende o diálogo com os Estados Unidos antes de qualquer ação. Sua expectativa é a de que o Brasil consiga excluir seus produtos da medida. O ministro disse ter enviado carta ao secretário de comércio dos EUA, Wilbur Ross, para que o Brasil possa esclarecer que as exportações de aço não prejudicam a segurança nacional dos EUA, motivo alegado para a sobretaxa. Presente ao fórum, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, disse que a imposição americana reforça a disposição do Brasil de avançar em outras frentes de negociação comercial. Meirelles citou o "acordo avançado" entre Mercosul e União Europeia e conversas com o Reino Unido. Ele reforçou que é necessário saber qual tipo de negociação os EUA pretendem para que o Brasil decida quais medidas adotar. E ressaltou que uma guerra comercial seria prejudicial para a economia mundial. Participante do mesmo painel que Meirelles, Hans-Paul Bürkner, presidente do Boston Consulting Group, ressaltou seu receio em relação à política do presidente americano Donald Trump. "Tenho medo, porque Trump pensa em termos muito simples. Eu venço, você ganha, não penso em implicações. Se você retaliar, mexo em outro grupo de produtos. Se não retaliar e você quiser conversar, não te dou nada e ainda avanço no próximo passo, mexo na Nafta, só para colocar pressão em você. Uso pressão, pressão. Não estamos lidando com alguém tão cuidadoso como você [Meirelles], que quer negociar uma solução com que todos possamos viver." Na mesma discussão, Andres Velasco, ex-ministro da Fazenda do Chile e professor da Universidade de Columbia, destacou alternativas, como o encaminhamento de negociações sem os americanos. "Semana passada [dia 8] em Santiago, 11 países assinaram TPP sem os EUA. Quando Trump saiu pensaram que não ia ocorrer a aliança. Adoraríamos convergir com Brasil e Argentina", disse ele, referindo-se ao Tratado Integral e Progressivo da Parceria Transpacífico 11 (TPP 11), assinado em substituição à antiga Parceria Transpacífico (TPP), cuja negociação foi abandonada em janeiro de 2017 por Trump. "Trump não vai propor, mas vamos fazer um acordo nas Américas sem os Estados Unidos", disse Velasco. Apesar da possibilidade de elevadas perdas para alguns segmentos da indústria siderúrgica, as sobretaxas não devem comprometer o superávit da balança comercial brasileira, segundo avaliação da FGV no relatório Icomex. Entre outros dados, o texto mostra que a fatia americana nas exportações totais brasileiras caiu de 25% para 12% entre 2002 e 2017.
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